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4.4.3. Transformar a agricultura e a floresta

Dado o estado atual da agricultura portuguesa, os seus constrangimentos socioeconómicos e, em especial, a urgência da sua transformação em resposta às alterações climáticas, o Bloco de Esquerda propõe um programa de transição ecológica agroflorestal, fazendo a transição do atual modelo de monocultura e de elevado consumo de água.

Responder aos incêndios florestais

Os problemas de despovoamento, desertificação e aumento da área de eucaliptal mantêm-se, sendo agravados pela crise climática. Acresce que o Estado português detém apenas 3% da propriedade florestal, valor que contrasta com 58% de média da Europa. O risco de incêndio florestal continua a ser uma enorme ameaça às populações e um risco ambiental. É necessário capacitar e valorizar a administração pública – assim como os pequenos proprietários e os baldios e avançar para um modelo sustentável e biodiverso de floresta, priorizando espécies autóctones e promovendo a gestão associativa da floresta.

  • Dotar o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) com os meios necessários para a gestão e conservação das áreas classificadas;

  • Intervir eficaz e rapidamente nas áreas ardidas através de planos de estabilização de emergência, no sentido de evitar a perda de solo.

  • Dotar as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP), estabelecidas em zonas de elevado risco de incêndio florestal, dos meios necessários para o conveniente ordenamento e gestão da paisagem e da floresta para promover a resiliência aos incêndios, a valorização do capital natural e a promoção da economia rural.

  • Apoiar e alargar a área territorial do Programa Condomínios de Aldeia para apoiar as aldeias localizadas em territórios vulneráveis ao risco de incêndio, de modo a assegurar a alteração do uso do solo e a gestão de combustíveis em redor dos aglomerados populacionais.

  • Implementação adequada do Plano Nacional de Fogo Controlado, que tem ficado muito aquém dos objetivos, para se conseguir uma defesa eficaz contra os incêndios, implicando o aumento da área de gestão ativa. Este Plano deveria minimizar o risco de incêndio e promover a renovação de pastagens, ao mesmo tempo que cria uma paisagem em mosaicos, incrementando a biodiversidade, mas necessita, paralelamente, da formação técnica dos diversos agentes florestais.

  • Conclusão do Cadastro da Propriedade Rústica;

  • Definição de uma estratégia de gestão em comum do minifúndio florestal com apoios efetivos à criação de UGFs (unidades de gestão florestal) a partir do respectivo instrumento legal;

  • Fim dos apoios públicos a explorações agroflorestais e pecuárias cuja atividade contraria o interesse público ou que pela sua dimensão económica, não dependem desses apoios;

  • Redução da área de eucalipto;

  • Reabilitação dos serviços públicos florestais e das matas nacionais e perímetros florestais, com expansão da floresta pública em áreas estratégicas para responder a desafios concretos das alterações climáticas;

  • Revisão e harmonização dos instrumentos de planeamento agroflorestal em função dos cenários de alterações climáticas previstos e das especificidades de cada região.

  • Reforço de todas as equipas e profissionais de proteção da natureza e combate aos incêndios – vigilantes, sapadores florestais, bombeiros – com valorização das suas carreiras.

Produção agroflorestal: transitar da produção (super)intensiva para a extensiva e multifuncional

Os sistemas intensivos apresentam grande produtividade, mas representam um risco para a saúde pública e para a preservação dos recursos, devido à facilidade de propagação de pragas, ao uso intensivo de agroquímicos e à falta de resiliência aos riscos climáticos. Em consequência das alterações climáticas, prevê-se uma descida até 30% da produtividade agrícola, pelo que é necessário garantir um modelo de segurança alimentar e de sustentabilidade ambiental. É ainda necessário promover ciclos curtos e locais de produção e consumo.

As propostas do Bloco:

  • Proteção das zonas ripícolas de modo a garantirem a proteção dos ecossistemas aquáticos das áreas de cultivo ou de florestação intensiva e adoção de planos regionais de ordenamento e instalação estabelecendo áreas máximas para cada tipologia de cultura agrícola, promovendo uma paisagem agroalimentar heterogénea;

  • Promoção dos princípios da produção integrada, garantindo a gestão racional dos recursos naturais, privilegiando a utilização dos mecanismos de regulação natural em substituição de fatores de produção;

  • Proibição de colheitas mecanizadas noturnas;

  • Criação do licenciamento para áreas de produção intensivas com avaliação de impacto ambiental obrigatória a partir de determinada dimensão;

  • Proibição da implantação de culturas sem solo, hidropónicas ou em substrato, em solos com elevado potencial agrícola, bem como de estufas para produção agrícola em áreas de Reserva Ecológica Nacional.

  • Criação do Banco Público de Terras exclusivamente dedicado a culturas extensivas e à transição ecológica agroflorestal;

  • Criação de uma taxa sobre a produção florestal de crescimento rápido e a indústria da celulose com aplicação de receitas no financiamento de serviços de ecossistema florestais com espécies autóctones;

  • Criação de apoios públicos financiados pela PAC e destinados a serviços de ecossistema;

  • Promoção da produção animal extensiva;

  • Promoção da produção e do consumo de bens alimentares de proximidade e de agriculturas sustentáveis;

  • Consagração de uma Lei de Bases do direito humano à alimentação e nutrição adequadas;

  • Criação de mecanismos de justa remuneração aos pequenos agricultores nas cadeias de abastecimento.

  • Pagamento por serviços do ecossistema, para remunerar os pequenos proprietários florestais e os pequenos agricultores pela promoção da biodiversidade e pelas estruturas de prevenção dos incêndios rurais.

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