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21. Imigração

A exploração a que muitos trabalhadores imigrantes estão sujeitos, por exemplo no setor da agricultura, tem chocado o país. E, ainda assim, a maioria absoluta do PS tem permitido o abuso, ao não responsabilizar de facto os donos das empresas através de processos de fiscalização e de aplicação da lei mais eficazes. Os atrasos em mais de 300.000 processos de atribuição ou renovação de título de residência impedem o reagrupamento familiar e a integração de quem escolheu Portugal para viver e trabalhar.

São precisas medidas para promover o acolhimento e a inclusão social de quem quer aqui viver. Regularização dos processos pendentes, combate à exploração laboral e medidas na área da habitação e saúde são algumas das medidas que o Bloco de Esquerda propõe.

Portugal é um país envelhecido e com um saldo natural negativo. Há vários anos que o número de óbitos supera o número de nascimentos (em 2022: 124.311 óbitos para 83.671 nascimentos), ou seja, há vários anos que estaríamos a perder população, nomeadamente população em idade ativa, se não fosse o fluxo migratório.

As e os imigrantes que escolhem Portugal como país para trabalhar e viver são fundamentais para que a população não diminua e para que inúmeros setores de atividade continuem a funcionar no dia-a-dia.

GRÁFICO 63 – Saldo natural, migratório e efetivo
Fonte: INE e Observatório das Migrações (Indicadores de integração de imigrantes: relatório estatístico anual 2023, de Catarina Reis de Oliveira)
GRÁFICO 64 – Pirâmide etária da população de nacionalidade portuguesa e estrangeira
Fonte: Indicadores de integração de imigrantes: relatório estatístico anual 2023, de Catarina Reis de Oliveira)

Os imigrantes são também um contribuinte líquido para o nosso sistema de solidariedade social. Em 2022 contribuíram com €1.861 milhões para a Segurança Social, tendo beneficiado apenas de €257 milhões em apoios, ou seja, um contributo líquido de mais de €1.600 milhões. Na prática estão a contribuir para a sustentabilidade do sistema e a garantir que os pensionistas continuam a receber as suas reformas e que as pessoas que necessitam de apoios sociais podem continuar a tê-los.

GRÁFICO 65 – Saldo das contribuições e prestações sociais da população de nacionalidade estrangeira (milhões de euros)
Fonte: Indicadores de integração de imigrantes: relatório estatístico anual 2023, de Catarina Reis de Oliveira)

Estes dados mostram como os imigrantes que escolhem Portugal, o fazem para trabalhar e para contribuir para o desenvolvimento da sociedade. E, no entanto, muitas e muitos deles têm de enfrentar situações de abjeta exploração laboral e humana, de extrema precariedade de vida, de exclusão social e de preconceito.

Na agricultura e em profissões não qualificadas os imigrantes são usados como mão-de-obra muito barata, muitas vezes em regime de quase escravatura, como tantas vezes tem sido público nas estufas e explorações agrícolas. A trabalhar sem contratos, por vezes sem receberem os salários devidos, ou em regimes de precariedade laboral, os imigrantes estão expostos a um maior risco de pobreza, de exclusão social, de acidentes profissionais, por vezes mortais. Muitos acabam a viver na rua quando se acaba a atividade sazonal.

A situação de dezenas de timorenses que acabaram a dormir na rua ou os casos de quase escravatura no litoral alentejano que o Bloco de Esquerda tem denunciado são a prova de como os imigrantes são usados e explorados por agiotas, angariadores de mão-de-obra, produtores agrícolas e empresas de construção civil.

Combater as redes de tráfico, regularizar as situações de permanência, garantir direitos laborais e o respeito pelos mais básicos direitos humanos é essencial, assim como a responsabilização automática de toda a cadeia de produção e de subcontratação pelas situações de exploração e violação de direitos.

De facto, segundo o Observatório das Migrações, as pessoas nacionais de países terceiros tinham uma taxa de risco de pobreza e de exclusão social significativamente mais alta (34,1% contra 19,8%) quando comparada com a população portuguesa.

Estes números espelham a falta de mecanismos de inclusão e de integração, realidade visível na saúde, onde as dificuldades de acesso persistem e a falta de intérpretes e de mediadores é por demais evidente, ou na habitação, onde é sobre as pessoas imigrantes que recai o preconceito e a xenofobia na altura de arrendar uma casa em Portugal. Como demonstra o relatório do projeto MigraMyths 2023, mais de 90% dos imigrantes dizem ter sentido discriminação no acesso à habitação, relatando como comuns a penalização nos requisitos de arrendamento ou a indisponibilidade de arrendamento por ser imigrante.

GRÁFICO 66 – Já sofreu algum tipo de discriminacao no arrendamento, financiamento ou nos apoios à habitação?
Fonte: Relatório do Projeto MigraMyths sobre Imigração e a discriminação na habitação em Portugal, 2023

A situação de muitas e muitos migrantes agravou-se na última legislatura, com bloqueios e atrasos nos processos de regularização. A Agência para a Integração, Migrações e Asilo diz necessitar de um ano e meio para recuperar os processos herdados pelo SEF e estima a existência de 300.000 processos pendentes, seja de atribuição ou renovação de Títulos de Residência, seja de reagrupamento familiar, indispensável a uma integração saudável.

As propostas do Bloco:

  • Investir em políticas de acolhimento de imigrantes, desde logo celeridade nos processos de atribuição e renovação de título de residência, para reagrupamento familiar e integração no mercado de trabalho com direitos;

  • Combater as formas de exploração de imigrantes, desde agiotas a redes de angariação de mão-de-obra, passando pela responsabilização de toda a cadeia de angariação, utilização e subcontratação, que se escondem através de “empresas na hora”;

  • Criar um programa especial de promoção de habitação e infraestruturação para territórios com elevado recrutamento de mão-de-obra migrante, co-responsabilizando o estado central, as empresas beneficiárias e as autarquias locais;

  • Combater a discriminação no acesso à habitação e, no caso de refugiados, garantir a estabilidade habitacional, através de uma política de programação do parque habitacional para primeiro acolhimento e progressiva autonomização pessoal e familiar;

  • Programas de ensino bilíngue e abertura dos espaços escolares à vida cultural das comunidades;

  • Incremento do programa “Português Língua de Acolhimento”, de modo a garantir oferta contínua de ensino formal da língua portuguesa desde o início da permanência em Portugal;

  • Garantia de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, contratação de intérpretes e mediadores culturais para as unidades de saúde com elevada percentagem de população migrante;

  • Garantia de prestação de cuidados de saúde e de monitorização do estado de saúde a todos os refugiados e requerentes de asilo;

  • Formação contínua dos técnicos da Segurança Social e de outras entidades públicas sobre temas relacionados com migrações e asilo;

  • Direito de voto a todas as pessoas titulares de autorização de residência em Portugal, independentemente da existência de acordos de reciprocidade com os países de origem (atualmente, estes acordos abrangem, além dos membros da UE, uma dúzia de países e só para eleições autárquicas; destes, só os nacionais do Brasil e de Cabo Verde podem ser eleitos, ao fim de dois anos);

  • Criação de uma linha de financiamento para apoio a organizações de pessoas migrantes e refugiadas no quadro do orçamento de Estado.

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